O anúncio do fim da joint venture com a mexicana Femsa encerra de vez o sonho da Raízen de espalhar 5 mil lojas Oxxo pelo Brasil. A promessa, feita em 2019 com a criação do Grupo Nós, virou símbolo de uma aposta ambiciosa que nunca entregou resultado e se transformou em distração cara para uma companhia hoje sufocada por dívidas e pressionada pelo mercado a simplificar o portfólio.
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A chegada do Oxxo, uma rede de conveniência muito forte no México, foi uma das bandeiras do ex-CEO da Raízen Ricardo Mussa. Sob sua gestão, a rede saltou de 17 lojas em 2020 para mais de 600 em 2024, todas concentradas em São Paulo, no raio de 150 km da capital. O ritmo de abertura foi intenso: até meados do ano passado, uma nova loja surgia a cada 42 horas.
Mussa defendia a densidade como diferencial competitivo — abrir uma loja por dia para alcançar escala. À época, Mussa chegou a dizer que o “meme do Oxxo em toda esquina” confirmava o sucesso do modelo.
Na prática, porém, a operação nunca saiu do vermelho, como o InvestNews mostrou em primeira mão ainda no ano passado.
Depois de registrar lucro de R$ 69,9 milhões no ano contábil 2019-20, quando operava apenas as lojas Shell Select, o Grupo Nós acumulou prejuízo líquido de R$ 165,7 milhões no exercício 2022-23, o mais recente divulgado pela companhia.
Naquele período, a dívida líquida passou dos R$ 250 milhões. Em paralelo, a empresa captou no mercado de capitais R$ 400 milhões.
Enquanto o Oxxo queimava caixa para sustentar a expansão — algo relativamente comum em negócios de varejo em estágio inicial —, a Raízen mergulhava em sua própria crise.
No ano-safra 2024/25, a companhia controlada por Rubens Ometto amargou prejuízo de R$ 4,2 bilhões e viu sua dívida líquida saltar quase 80%, para R$ 34,3 bilhões — alavancagem de 3,2 vezes o Ebitda. No início de 2025/26, a dívida já passava de R$ 49 bilhões, com alavancagem de 4,5 vezes.
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O negócio de proximidade do Oxxo, que deveria ser uma vitrine de sucesso, virou sinônimo de peso. Em maio de 2025, a própria Raízen classificou o Oxxo como ativo “não-core” e passou a sondar compradores para sua fatia na joint venture.
Ainda assim, o InvestNews mostrou que Raízen e Femsa precisaram injetar mais R$ 150 milhões ao lado da Femsa para garantir fôlego ao caixa do Grupo Nós.
A crise culminou em troca no alto escalão no fim do ano passado. Em novembro, Ricardo Mussa deixou o comando da Raízen e deu lugar a Nelson Gomes, incumbido de reduzir a dívida e devolver foco ao core business — açúcar, etanol, bioenergia e combustíveis. Sob a nova gestão, a companhia iniciou um “saldão” de ativos, com a venda de usinas, operações financeiras e, agora, a saída definitiva do Oxxo.
Pelo acordo anunciado, a Raízen ficará com 1.256 lojas Shell Select e Shell Café, que seguirá expandindo via franquias integradas à rede de postos. A Femsa assume 611 Oxxos e o centro de distribuição de Cajamar (SP), além das dívidas do Grupo Nós. Não haverá pagamento entre as partes. A transação ainda depende de aval do Cade.
No discurso oficial, o tom é de conciliação. Para a Femsa, “o Brasil permanece como foco fundamental da estratégia de crescimento de longo prazo” e a transição é apresentada como amigável e planejada. “Seguimos totalmente comprometidos em fortalecer e expandir o Oxxo neste mercado vibrante”, disse Constantino Spas, CEO de Proximidade Américas do grupo mexicano.
Já a Raízen preferiu enquadrar a saída como sinal de disciplina. Segundo Rodrigo Patuzzo, conselheiro do Grupo Nós ligado ao grupo de Ometto, a decisão “reflete a maturidade da operação e está alinhada à estratégia de simplificar o portfólio”.
Para analistas e investidores, a decisão já era esperada. O mercado via o Oxxo como um erro estratégico: um negócio deficitário, fora do core e que drenava recursos e energia — insustentável diante do endividamento crescente.
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