A notícia de que a Puma pode trocar de donos chega em meio ao pior desempenho da marca na bolsa desde que foi listada: queda de 54% em 2025, lojas lotadas de produtos em promoção e concorrentes como On e Hoka ocupando o espaço que antes era dela. Para quem acompanha o mercado de vestuário esportivo, o cenário é um convite a reaprender a usar o que já está no armário: os clássicos da Puma — suede, tênis de corrida retrô e jaquetas de nylon — voltam a circular sem o hype, mas com a mesma versatilidade de sempre. A ocasião é o dia a dia urbano, onde o logotipo em forma de felino deixa de ser sinônimo de tendência e passa a ser peça de resistência, quase um uniforme discreto para quem não quer abandonar a marca, mas também não quer parecer que saiu de 2019.
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O truque está no equilíbrio entre volume e sobriedade. Jaqueta de nylon com shape boxy, cor preta ou verde-oliva, sobre camiseta de algodão cru e calça de moletom reta, sem logos aparentes: o contraste entre o brilho técnico do nylon e o felpo opaco do moletom evita o visual de head-to-toe Puma que hoje soa datado. Nos pés, o Suede ou o Ralph Sampson ganham nova vida quando usados com meia grossa dobrada sobre o colarinho, deixando a canela aparente e quebrando a nostalgia com um toque contemporâneo. O material da parte superior continua camurça, mas o cuidado é manter o cabedá limpo com escova de cerdas macias e sola branca restaurada com borracha de bicicleta — pequenos gestos que afastam o ar de outlet e reforçam a ideia de peça vintage, não rejeito de liquidação.
A mesma lógica funciona para peças femininas: vestido de malha tubinho em preto ou cinza-mescla, cortado justo no quadril, sobre meia-calça opaca e tênis de corrida Puma Velocity 2 na versão full-black. O amortecimento EVA da entressola mantém o conforto para o dia inteiro, enquanto a parte superior em mesh reciclado respira melhor que o couro sintético das versões anteriores. Para dias mais frios, o bomber de nylon com forro de malha — aquele que aparecia em todos os guarda-roupas entre 2016 e 2018 — vira terceira peça desestruturada, deixando de lado o zíper dourado e abusando do fechamento total, quase imperceptível. A silhueta perde o ar de academia e ganha ares de uniforme criativo de escritório, onde o tênis é aceito desde que o resto do look mantenha a paleta restrita.
Quem quiser ir além do monocromático pode usar o verde-kelly ou o bordô das peças de corrida da marca como acidente de cor: um boné de três listas em nylon técnico, dobrado na aba e usado para trás, ou uma mochila de 12 litros em rip-stop com o logo bordado em fio fosco, não emborrachado. O segredo é tratar a Pura como o que ela é hoje: uma marca em recesso, que precisa de styling para recuperar o crédito. Em vez de esconder o logo, usa-se pequeno, deslocado — um patch de 2 cm na lateral da bolsa ou o escudo bordado na altura do tornozelo da meia, quase um detalhe técnico. O resultado não vende ilusão de luxo, mas propõe um uso honesto: peças que continuam servindo, mesmo quando a bolsa diz que a moda já passou.
